Inovações em Oncologia: o que é a Promissora Crioablação no Combate ao Câncer de Mama

A oncologia moderna caminha em direção à redução e personalização dos tratamentos. O objetivo é oferecer terapias mais individualizadas que minimizem o impacto físico e estético, ao mesmo tempo em que mantêm a segurança oncológica.

TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA

Dra Marina Bachmann Guimarães

11/18/20252 min read

Dentro desse movimento de personalização de tratamentos, surge a Crioablação, uma técnica minimamente invasiva que tem gerado grande expectativa. Ela é uma ferramenta promissora que está sendo cuidadosamente testada para um grupo muito específico de pacientes.

O que é a Crioablação e como ela age?

A Crioablação é uma forma de terapia que destrói o tecido neoplásico utilizando temperaturas extremamente frias.

O procedimento é tecnicamente simples, realizado em regime ambulatorial com anestesia local. Sempre guiada por ultrassom, uma sonda é inserida no tumor. Essa sonda atinge temperaturas abaixo de −100∘C.

A destruição do tumor ocorre por um mecanismo de dano direito, causado pela formação de gelo dentro das células e por também por um dano indireto, induzindo uma morte celular programada.

A "bola de gelo"formada pelo congelamento deve abranger o tumor com uma margem de segurança de 1 cm a 1,5 cm além do tamanho da lesão. Também foi demonstrado um efeito imunomodulador, ativando células imunes e gerando uma resposta antineoplásica.

Os Estudos de Eficácia:

O estudo Alliance Z1072 (EUA) foi um dos pioneiros em avaliar a Crioablação em câncer de mama. Para tumores menores que 1,0 cm, o sucesso da ablação foi de 100%.

Outro estudo, o ICE3 ( atualmente com 5 anos de seguimento), avaliou a Crioablação sem excisão cirúrgica. Ele focou em uma população altamente selecionada de baixo risco, recrutando mulheres idosas, com tumores pequenos e e de perfil molecular luminais (que expressam receptores hormonais). A taxa de sobrevivência específica ao câncer de mama foi de 96,7%, demonstrou ser extremamente segura e bem tolerada.

E no Brasil, o FIRST Trial conduzido pela UNIFESP, também confirmou a viabilidade da técnica, mas ainda com resultados preliminares.

A Grande Cautela: A Crioablação não é tratamento padrão

Apesar dos resultados animadores, a Crioablação não é, atualmente, um tratamento padrão que possa ser amplamente proposto na clínica geral.

O "caos" causado pela divulgação na mídia, onde a Crioablação foi vendida como "tratamento do futuro" já consolidado, gerou um grande desconforto. Não há autorização formal específica da ANVISA para o tratamento do câncer de mama, sendo realizada em caráter instrumental ou experimental.

Outras terapias, como a radioterapia intraoperatória, que inicialmente apresentou baixas taxas de recorrência em 5 anos, se mostraram ineficazes no seguimento de longo prazo. Cinco anos de follow-up ainda não são suficientes para garantir a segurança da técnica.

A indicação atual é estritamente protocolar: só deve ser considerada como alternativa à ressecção cirúrgica em uma população altamente selecionada e em estudos clínicos.

Fontes:

A Phase II Trial Exploring the Success of Cryoablation Therapy in the Treatment of Invasive Breast Carcinoma: Results from ACOSOG (Alliance) Z1072. Ann Surg Oncol 23, 2438–2445 (2016).

Cryoablation Without Excision for Early-Stage Breast Cancer: ICE3 Trial 5-Year Follow-Up on Ipsilateral Breast Tumor Recurrence. Ann Surg Oncol. 2024 Oct;31(11):7273-7283.

Preliminary results of the FIRST (FreezIng bReaST cancer in Brazil) trial: a before-after study. Cancer Res 1 March 2023; 83 (5_Supplement): P4–07–48.