Terapia Hormonal na Menopausa: Menos Medo, Mais Alívio

A Terapia Hormonal na menopausa passa por uma importante revisão, agora entendida de forma mais equilibrada e sustentada por evidências. As novas diretrizes destacam que o momento de iniciar o tratamento é decisivo e que a abordagem deve ser totalmente individualizada.

MENOPAUSA

Dra Marina Bachmann Guimarães

11/13/20254 min read

A menopausa traz consigo desafios significativos, desde ondas de calor intensas e suores noturnos que atrapalham o sono, até alterações de humor. Há décadas, a Terapia Hormonal (TH) — conhecida anteriormente como Terapia de Reposição Hormonal — tem sido usada para tratar esses sintomas moderados a graves. Contudo, o tema se tornou envolto em grande controvérsia, especialmente após os resultados de um grande estudo chamado Women’s Health Initiative (WHI), em 2002. Esse estudo gerou um medo considerável de que a TH aumentasse o risco de morte por câncer de mama, fazendo com que milhões de mulheres deixassem de buscar ou interrompessem o tratamento.

A boa notícia é que a ciência evoluiu e o órgão regulador americano (FDA) reconheceu a necessidade de uma reavaliação. Recentemente, a FDA atualizou drasticamente as informações de rotulagem (as bulas) dos produtos de TH, sinalizando uma mudança importante no entendimento do equilíbrio entre riscos e benefícios.

Um dos passos mais significativos da FDA foi a remoção dos "Alertas de Caixa Preta" (boxed warnings) de praticamente todos os produtos de Terapia Hormonal.

Esses alertas, instituídos em 2003, destacavam riscos graves, como doenças cardiovasculares, tromboembolismo, câncer de mama e provável demência. A presença desses alertas fazia com que os médicos hesitassem em prescrever a TH.

As novas diretrizes da FDA removem esses alertas para:

• Todas as combinações de estrogênio + progestogênio.

• Produtos contendo apenas estrogênio.

• Produtos contendo apenas progestogênio.

• Outros produtos contendo estrogênio.

O único alerta que permanecerá é para o risco de câncer endometrial (câncer do revestimento uterino) em mulheres que usam estrogênio sistêmico sem a adição de um progestogênio. O progestogênio é fundamental para mitigar este risco sério em pacientes que ainda possuem útero.

Composição da Terapia Hormonal e Risco de Câncer de Mama

O medo do câncer de mama foi, talvez, o maior impacto do estudo WHI de 2002. No entanto, análises posteriores mostraram que o aumento de risco observado (1 diagnóstico adicional de câncer de mama não fatal para cada 1.000 mulheres tratadas por ano) foi, na verdade, atribuído à formulação específica de progesterona usada naquele estudo: o acetato de medroxiprogesterona.

Essa formulação específica não é comumente utilizada hoje em dia para a terapia hormonal. É crucial saber que ensaios clínicos nunca encontraram um aumento no risco de mortalidade por câncer de mama devido à terapia hormonal.

O Fator Tempo: Por Que a Idade de Início é Crítica

Uma das lições mais importantes que aprendemos desde o WHI é que o momento de iniciar a terapia hormonal é fundamental para determinar o equilíbrio entre risco e benefício.

O estudo WHI original avaliou mulheres mais velhas (idade média de 63 anos) e não exigia que o tratamento fosse iniciado antes dos 60 anos ou dentro de 10 anos da menopausa.

A evidência mais recente, incorporada nas novas bulas da FDA, enfatiza a importância de um "período de oportunidade":

Otimização do Benefício: Iniciar a TH em mulheres com menos de 60 anos ou dentro de 10 anos do início da menopausa está associado a inúmeros benefícios de longo prazo.

Redução da Mortalidade: Iniciar a TH dentro de 10 anos da menopausa reduz a mortalidade por todas as causas na década subsequente.

Inversão do Benefício: Quando a TH é administrada mais tarde (fora dessa janela), os benefícios cardiovasculares parecem se inverter, potencialmente devido ao estreitamento e endurecimento vascular que já ocorreu.

Benefícios Comprovados da Terapia Hormonal

A TH iniciada precocemente tem sido associada a benefícios significativos para a saúde em um nível populacional:

Saúde Cardiovascular: Redução de 25% a 50% em eventos cardiovasculares fatais, sendo a doença cardiovascular a principal causa de morte em mulheres.

Saúde Óssea: Redução de 50% a 60% nas fraturas ósseas.

Saúde Cognitiva: Redução de 64% no declínio cognitivo e diminuição de 35% no risco de Doença de Alzheimer.

Rumo ao Cuidado Individualizado

As atualizações da FDA promovem uma mudança importante no modo como a TH é vista e prescrita:

1. Fim da Regra da "Menor Dose": A recomendação anterior de prescrever a TH na "menor dose eficaz pelo menor período de tempo" foi removida.

2. Julgamento Clínico e Individualização: As decisões de tratamento agora são reconhecidas como individualizadas, baseadas no julgamento clínico do médico em discussão com a paciente.

3. Diferenciação de Formulações: O FDA buscou diferenciar terapias sistêmicas (que circulam pelo corpo) de terapias tópicas. Por exemplo, o estrogênio vaginal tópico, usado para sintomas geniturinários debilitantes, terá informações de segurança específicas, sem as advertências mais amplas associadas à exposição sistêmica.

Essas revisões de rotulagem refletem uma mudança significativa em direção a uma comunicação mais baseada em evidências e mais sutil sobre os riscos e benefícios da Terapia Hormonal. Elas reconhecem as limitações dos estudos anteriores e destacam a importância de iniciar o tratamento no momento certo.

O medo excessivo que impediu muitas mulheres de acessar os benefícios de curto e longo prazo desta terapia pode diminuir. Se você está na perimenopausa ou pós-menopausa, esta é uma excelente oportunidade para ter uma conversa atualizada e franca com seu médico.

É fundamental lembrar que, embora os riscos associados ao câncer de mama tenham sido exagerados devido a formulações antigas, adoção de bons hábitos de vida, o monitoramento rigoroso e a mamografia de rotina continuam sendo essenciais para todas as mulheres, independentemente do uso de Terapia Hormonal. Seu plano de tratamento deve ser sempre personalizado, levando em conta seu histórico médico completo.

Fonte: Updated Labeling for Menopausal Hormone Therapy. JAMA. Published online November 10, 2025. doi:10.1001/jama.2025.22259